Depois de mais de 25 anos atuando como advogado – primeiro como Procurador do Estado, depois atuando na advocacia privada especializada em direito público – sinto que posso, devo e desejo ir além da atividade técnico-jurídica, aproveitando minha experiência profissional para de algum modo opinar e contribuir nos debates nacionais e internacionais sobre temas de relevância pública, não somente sob a perspectiva do Direito, mas igualmente da Política e da Sociedade.
Obviamente já venho fazendo isso há muito tempo, em salas de aula, palestras, conferências, workshops, junto à imprensa, no Brasil e pelo mundo afora. E é meu desejo mais sincero que por meio do Blog eu possa prosseguir no contato com este público especializado, sobretudo a imprensa, com quem venho interagindo basicamente todos os dias e por mais de uma vez ao dia, sobre os assuntos em que acabei, no jargão do jornalismo, me transformado em “fonte”.
Mas o público que me interessa agora é sobretudo o “grande público”. Esse “respeitável público” que, principalmente em virtude das redes sociais que se multiplicam em escala vertiginosa – e que impactam cada vez mais na denominada “opinião pública”, na nova era da “pós-verdade” – deseja ter voz, mas também precisa (ou pelo menos deveria) se informar melhor para poder se posicionar em debates que são criados todos os dias, sobre os mais diversos assuntos, e que acabam tendo consequências sobre a vida de cada um de nós, da sociedade, do país e do mundo, em uma velocidade que vem deixando para trás os cometas mais famosos …
Exerço a atividade de professor há aproximadamente 20 anos, sendo praticamente 10 anos na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), o que me torna não somente um ator, mas sobretudo um espectador privilegiadíssimo do que acontece em tempo real no Brasil e no mundo, pois venho formando e (espero) influenciando acadêmicos de Direito e estudantes de Mestrado e Doutorado naquela que é, sem sombra de dúvida, a mais famosa e tradicional das Escolas de Direito do país.
Ensinar não é fácil, notadamente quando o seu público cativo não está muito interessado em você ou no que você diz, e isso pelas mais variadas razões. Mas a gente sempre pensa que é porque a gente não está sendo interessante o suficiente para eles. Eu pensava isso, não penso mais. Eu continuo me esforçando ao máximo, estudando mais ainda, me preparando cada vez mais. No entanto, a concorrência com smartphones, redes sociais, Netflix e afins, Apple Watches e wearables é desumana para um professor universitário e palestrante profissional. E eu admito que logo vi que nunca venceria esta guerra. Mas continuo batalhando para ser um melhor comunicador. E um dos segredos que descobri, e que divido aqui com vocês, é que quanto mais claro, honesto, menos rebuscado e direto você for, melhor será a qualidade da sua comunicação. Quando eu me comunico, eu tenho de ser eu; não posso querer ser uma outra pessoa. Isso costuma trazer resultados bem positivos, ultimamente. E o Blog é uma tentativa de continuar fazendo alguma contribuição nesse percurso que eu escolhi para a minha vida de “ser pensante” – às vezes gostaria de pensar e de refletir menos, mas não consigo – e confesso que fiquei muito animado em tocar em frente este projeto que acalento há uns 4 anos pelo menos.
Todos esses anos, lidando com grandes personalidades do mundo político, empresarial, jurídico e da sociedade; trabalhando e estudando no exterior, e convivendo com culturas muitas vezes opostas à brasileira, além de aguçar cada vez mais minha curiosidade sobre o significando do “ser” ser humano nos dias de hoje, me desafiou em poder falar e escrever sobre assuntos que num primeiro momento aparentam ser complicados, mas que devem ser enfrentados, tratados e explicados com mais simplicidade e de modo mais sintético – o predomínio do hipertexto nos trouxe aqui! – e para um público que muitas vezes está interessado no tema ou no debate, mas tem medo ou vergonha de perguntar.
Prefiro explicar o que pretendo fazer aqui no Blog com um fato que me aconteceu recentemente. Um dia pela manhã, eu retornava da academia para a minha casa, a pé. Eu estava parado na calçada, esperando o sinal de pedestres ficar verde, para eu poder atravessar a rua. Do lado oposto, estava uma senhora de aproximadamente uns 60 anos, de aparência muito simples. O sinal ficou verde, e eu iniciei a travessia na faixa de pedestres. Chegando do outro lado, percebi que ela permanecia parada, segurando suas sacolas, e aparentando algum nervosismo. Eu passei por ela, mas retornei, dizendo: “A senhora pode atravessar a rua agora. O sinal de pedestres está livre para a senhora. Está verde, olha lá?”. Ela me agradeceu, e atravessou a passos rápidos, porém olhando para todas as direções. Um senhor que estava perto e testemunhou o que sucedera, me disse: “Coitada da senhora, muito simples, não é? Muito simples ela, coitada”. E eu respondi, dizendo que muitas vezes uma palavra e uma ajuda singela podem impactar positivamente na vida das pessoas.
Fiquei feliz com a minha ação naquela manhã. Sim sou um altruísta na essência, mas este altruísmo nos meios profissionais e acadêmicos em que habito geralmente não cai bem, e fica difícil exercê-lo como eu gostaria. Meus interlocutores no cotidiano são ferozes e bem competitivos, e eu me adaptei a esta realidade. Mas boa vontade e generosidade são qualidades que herdei de meus ancestrais, e vez ou outra fico à vontade para praticá-las. Afinal, existe algo mais generoso do que repartir conhecimento voluntariamente?
O exemplo realmente é simples. Mas explicita bem o meu intuito aqui: falar de assuntos que podem soar complicados, em uma primeira aproximação. Mas que, desde que bem explicados, da maneira mais simples e direta possível, podem sem enfrentados e até resolvidos, produzindo efeitos que podem ir do mero conhecimento do fato até uma reflexão mais aprofundada sobre o ocorrido, podendo chegar até a uma solução melhor do que aquela que eu eventualmente propuser para a problemática. A didática e a metodologia científica que tive de incorporar ao longo dos anos de magistério deve servir para alguma coisa, quero dizer, para além da sala de aula. Vou experimentar utilizá-las e adaptá-las aqui no Blog. Gosto de experimentações. No fundo, sou um cientista. Cientista jurídico. Mas um cientista sim.
Embora minha formação seja massivamente jurídica, sempre procurei compreender e tratar dos temas da minha área de especialidade – Direito Administrativo, precisaremos e vamos tratar dele nos posts – a partir de uma perspectiva mais interativa e dialógica com áreas afins, como a Ciência da Administração, a Ciência Política, a Sociologia, a Economia. No transcurso desses anos, experimentando métodos e metodologias não somente em sala de aula, mas em palestras para audiências tão diversas como advogados, funcionários públicos, meio corporativo, organizações não-governamentais, percebi que é somente por meio desta permanente interação que consigo ter algum sucesso em formar minha opinião e poder comunicá-la, sempre levando em conta as diferentes perspectivas das ciências além do Direito, e de um público mais diversificado, para além da comunidade jurídica.
Este é o verdadeiro leitmotiv do Blog: um olhar sobre o aqui e o agora, o nacional e o internacional, a partir de uma perspectiva que aproxime o ponto de vista do Direito das ciências afins ao Direito, e que muitas vezes são as grandes responsáveis por iluminar as problemáticas contemporâneas – comprovadamente cada vez mais complexas e intensas – para que desse modo possamos todos envidar esforços para chegar, não a uma única solução – não sou e nunca fui partidário de minimalismos radicais, e muito menos impositivos e extremistas – mas a soluções mais plurais e participativas, as quais possam de maneira mais construtiva, pedagógica e emancipatória, fazer certo sentido a todos esses públicos que hoje povoam o mundo real e o mundo virtual – muitas vezes assumindo personalidades distintas em cada um deles, o que complica ainda mais focarmos em uma boa comunicação de caráter mais geral e abrangente.
Se eu vou conseguir alcançar este objetivo, eu não sei. Mas como os americanos dizem, tenho a intenção de “enjoy the ride”. E se eu conseguir inspirar o meu leitor, e provocar alguma discussão que seja desenvolvida para além do dominante “você é coxinha ou mortadela?” do Brasil de hoje – uma dicotomia reducionista e nada inteligente que somente nos afasta e jamais nos aproxima -eu já vou ficar bastante satisfeito. Na vida real eu até tenho conseguido isso, mas desbravar o mundo virtual é verdadeira novidade para mim. Contudo, a vida é feita de desafios, não é? Então vamos a mais este, Professor Justino! Vem comigo? ?